2 de fev. de 2010

Turismo cultural ou mercantilização da cultura?



A caótica La paz vai ficando para trás, dando lugar à uma planíce povoada de casas de adobe, com presença de pastores, ovelhas e llamas. Eis que surge, ao lado esquerdo da estrada, um mar de água doce, num azul tão forte, que penetra nos olhos, invade a alma e provoca um deslumbramento sobrenatural. Neste momento não duvidamos que o Lago Titicaca foi formado a partir das lágrimas do deus Viracocha (ou Inti).


Lago Titicaca /foto de Lívia Alcântara


O Titicaca é o lago navegável mais alto do mundo. Abriga lendas, sítios arqueológicos, culturas, magias e a Isla del Sol, maior ilha do lago, habitada por descendentes da cultura Inca e Tiwanaku. Na ilha fala-se os idiomas quechua, aymara e espanhol. Os habitantes vivem do artesanato, do pastoreio e da agricultura de subsistência. Saem da Isla del Sol apenas uma vez por semana para comprar mantimentos, como frutas, que não existem em abundância na ilha.

Turistas do mundo inteiro, especialmente norte americanos, migram até a ilha para desfrutar das belezas naturais e entrar em contato com o passado milenar da América. O passeio é feito através de agências, utilizando-se barcos que saem de Copacabana. Pode-se visitar a parte norte e a parte sul da ilha em um único dia. Para os aventureiros, ainda é possível acampar na ilha, "como os argentinos que vem fazer sua música, ficar na praia e se divertir", explica o guia. O guia turístico que acompanhou nosso grupo no trajeto pela ilha nasceu na própria Isla del Sol, fala aymara e espanhol, e está estudando inglês. Explica logo na chegada que o dinheiro cobrado para o ingresso na ilha serve para custear a ida da população à Copacabana, formação de mais guias e a manutenção dos caminhos turísticos.

As agências de viagens, após a visita à ilha, dão de brinde aos turistas: um passeio na ilha flutuante. Os visitantes são recebidos com uma placa bem grande escrito: WELCOME, num lugar onde se fala essencialmente aymara e quechua. Diferente das famosas ilhas flutuantes de Puno (Peru - a poucas horas de Copacabana), nesta ilha não moram pessoas. Existe uma família em que: o pai e o irmão mais velho ajudam o barco de turistas a aportar, desembarcar e cobram o ingresso de 3 bolivianos. Os filhos mais novos vendem artesanatos e a mãe prepara a refeição dos capitães dos barcos e vende refrigerante.

Ilha Flutuante, Lago Titicaca /Foto de Lívia Alcântara

Ao fazer turismo cultural estamos comprando cultura? Esta questão que surge, junto ao sentimento de angústia que brota ao se conhecer a ilha flutuante, é discutida por Maria Elias Gomes, no texto (de 2 páginas) titulado "Reflexões acerca da relação turismo e cultura." A autora coloca alguns pontos chaves, positivos e negativos, do turismo, para esta dicussão, e salienta "não se deve "culpar" o turismo por todos os problemas descritos acima, já que as comunidades estão ligadas às mudanças sociais que afetam todas as sociedades no atual processo de modernização. Assim, o turismo acelera o processo, mas não o cria." A idéia pode ser aprofundada à luz do resgate histórico que faz Rodrigo Meira Martoni, professor do Departamento de Turismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que analisar a relação entre turismo e capitalismo com base na teoria marxista.




Elder Barbosa e Lívia Alcântara


obs: Este texto e o próximo fazem parte da série de publicações sobre a viagem Bolívia e Machu Pichu. O atraso na postagem se deve as impossibilidades técnicas.




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