27 de nov. de 2009

Soberania Camponesa

Os agricultores familiares Jair Rodrigues e Luiz Moreira realizaram a primeira avaliação do processo de armazenamento das sementes crioulas. Estas sementes constituem a primeira seleção da experiência de melhoramento genético do milho crioulo, que está sendo realizada no assentamento do MST Olga Benário (Visconde do Rio Branco, MG) e no acampamento Francisco Julião (Santana de Cataguases, MG).

Avaliação das sementes crioulas armazenadas no ano passado.
foto Lívia Alcântara


Nesta região da Zona da Mata mineira, existe uma granja de frangos que incentiva, através de contratos de compra exclusivos, a produção do milho por partes dos agricultores para atender sua demanda, Nesta forma de produção integrada, o agronegócio não precisa dar conta da produção agrícola primária. Os agricultores, por sua vez, uniformizam e padronizam suas produções para atender aos requisitos da empresa, deixando de manter uma relação de equilíbrio com o meio do qual vivem.

“A agricultura camponesa depende de ser uma agricultura de convivência com o meio ambiente”, afirma Daniel Mâncio, do “Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST de Minas Gerais”. Com base neste fundamento e em busca da autonomia camponesa, surgiu a necessidade de trabalhar com sementes crioulas nas duas áreas de reforma agrária, a partir de campos de melhoramento.

As sementes foram adquiridas com os agricultores familiares sindicalizados do município de Acaica – MG, que já fazem o melhoramento do milho crioulo há alguns anos, em parceria com o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM). Em 2008 foram preparados três campos de sementes (um no acampamento Francisco Julião e dois no Assentamento Olga Benário). Após a colheita, as sementes do meio da espiga foram separadas e guardadas, para serem replantadas, dando continuação ao melhoramento genético. A outra parte das sementes, ficou para as famílias envolvidas, que as trocarão pelo milho de consumo (milho usado para o consumo do homem e de animais) de outras famílias que solicitem a semente crioula. O processo de melhoramento genético não pode parar. Segue-se introduzindo novas variedades de milho para a diversificação genética, diminuindo os riscos de que uma doença atinja toda a plantação e buscando que a produção se adeque as condições ambientais de produção existentes. Desta forma, o camponês terá sempre sementes de qualidade e não paragá por elas.

Um dos grandes desafios do pequeno agricultor é  o armazenamento das sementes até a época de plantio. A solução que os agricultores participantes desta experiência encontraram, foi colocar o milho em um tambor grande, com uma vela acesa dentro. Após lacrado o tambor, a vela queima até acabar o oxigênio, matando os carunchos (besouros que estragam os sereais armazenados). A experiência funcionou, o milho não foi atingido. Pouco antes de ver o resultado da experiência, iniciada à um ano atrás (2008), o agricultor familiar Jair Rodrigues demonstrava sua ansiedade: “Eu estou torcendo para esta experiência da vela dar certo. Pois nosso grande problema é com o armazenamento das sementes”.


Tambor Lacrado com as sementes crioulas. Vela queima até acabar com o oxigenio, matando os carunchos.
fotos de Lívia Alcântara

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